Vamos lá ver, eu sou muito a favor da indignação, acho que
faz bem uma pessoa indignar-se de vez em quando, até porque é óptimo para
aumentar as cargas no ginásio, mas há aí uma corrente mais recente de
indignação que me anda a deixar indignada!
Alguns anos de Photoshop e umas quantas mortes devidas a
distúrbios alimentares mais tarde, começámos a ver alguma indignação da parte,
principalmente mas não só, das mulheres contra a pressão exercida pelos media
para que respeitássemos um estereótipo estético que não é acessível à maioria (então
para nós, portuguesas, que somos tendencialmente baixinhas, o dito estereótipo
tem umas pernas quase da nossa altura...).
Até aqui tudo bem, acho que sim, que devemos tentar proteger
as nossas filhas de serem escravas de um processo tortuoso em busca de uma imagem
irreal, inatingível e nada saudável, na maioria dos casos. Ainda assim,
custa-me engolir que os media tenham mais peso do que o que é transmitido pelos
pais, mas não sou mãe, não tive de lidar com esse tipo de problemas e tenho o feeling
que deve ser difícil, senão mesmo incontrolável.
Sou muito a favor das campanhas que mostram “a mulher real”,
que permitem que vejamos que cada mulher é única, pode ter mais ou menos peso,
pode ter sardas, celulite e não é escrava do 86-60-86 nem é um clone que vai
aparecendo com maquilhagem diferente.
PORÉM, há que ver o enquadramento da coisa... Para vender
roupa, cremes, produtos de maquilhagem, tampões e qualquer outro produto cuja
utilização não esteja directamente dependente do estereótipo, poderiam e
deveriam ser utilizadas muito mais vezes mulheres que demonstrem a variedade
que existe no mundo real... Mas e se o produto vendido for directamente
orientado para que se atinjam determinados objectivos estéticos?
A campanha da Protein Word que gerou revolta com o cartaz
mostrado abaixo já não me choca tanto...
Pura e simplesmente porque o que está a ser publicitado, como
se pode ver no cartaz, são precisamente produtos para a perda de peso... Ora
convenhamos que colocar uma pessoa com excesso de peso no cartaz deveria ir contra
todas as regras de marketing que alguma vez existiram, certo? Desculpem-me o
grafismo, mas era a mesma coisa que nos anúncio da tampax mostrarem uma
rapariga com o bikini sujo.
Claro que é questionável o uso da frase, e até foi em parte
nisso que se baseou a campanha de revolta, em mostrar que o “beach body” é aquele
que tens quando vais para a praia e não aquele que alguém quer fazer acreditar
que é o “certo”, mas ainda assim, vejo com muito piores olhos os cartazes do El
Corte Inglés ou da Calzedonia que mostram roupa que só assenta daquela maneira a
uma percentagem ínfima da população e que fazem a lavagem cerebral de forma
muito mais subtil (e perigosa) do que os de uma companhia de suplementos que
estão a mostrar uma determinada imagem como suposto resultado directo do uso dos
seus produtos. E pronto, com meio cérebro a funcionar, já todos sabemos que a
primavera é a altura em que somos bombardeados com as campanhas dos produtos
milagrosos, porque é muita chato ir ao ginásio e fazer dieta o ano todo e
entretanto o Verão está aí a chegar! É a altura certa para vender a banha da cobra!
Ainda assim, gostei de alguns dos resultados da “contra-campanha”,
foram criados cartazes bem engraçados com mulheres que mostram OS SEUS beach bodies, mesmo não estando estes de acordo com o que,
supostamente, seria aceite :)
E por fim, surge a indignação que mais me indigna, que não
sei se é recente ou se eu é que só dei por ela agora, que é a indignação do pessoal
fit/magro contra a indignação dos indignados com os media que nos enchem de
complexos de inferioridade (se deixarmos que o façam)... Passo a explicar.
Estou nalguns grupos relacionados com o fitness no Facebook
e sigo algumas páginas e Twitters sobre assuntos relacionados e ultimamente,
cada vez que aparece uma campanha em que se mostram mulheres que não encaixam
nos estereótipos como esta toda a gente se vai aos arames e fica super
ofendida porque supostamente, para defender que a mulher real não se encaixa
neste estereótipo, estão a “mandar a baixo” as mulheres que encaixam e a
promover uma imagem “pouco saudável”... Eu fico parva com isto...
2)
Pouco saudável? Porque a imagem normalmente
apresentada é de gente mega saudável? Porque mostrar saúde é o objectivo das
campanhas da Victoria Secret? Ó pá, menos... Onde é que estão as análises e os
exames médicos, para vermos se a menina de 1.80m e 48Kg é mais saudável que a
de 1.60 e 70Kg? Não há? Então não estamos a falar de saúde, desculpem lá! “Olha
as nossas modelos com os triglicéridos tão baixos!”, “De facto, gostava de ter a
glicemia em jejum desta rapariga...”... Certo...
E pronto, era isto... Já deitei cá para fora a minha
indignação contra a indignação dos que se indignam com a indignação dos
outros... Oh the irony!